teoria geométrica de medidas
primavera de 2023
\DeclarePairedDelimiter{\jacobian}{{[\![}}{{]\!]}}
\NewDocumentCommand{\Lmeas}{O{n}}{\mathcal{L}^{#1}}
\DeclareMathOperator{\Lip}{Lip}
\NewDocumentCommand{\ldiff}{O{v}}{\underline{D_{#1}}}
\NewDocumentCommand{\udiff}{O{v}}{\overline{D_{#1}}}
\NewDocumentCommand{\diff}{O{v}}{D_{#1}}
\DeclareMathOperator{\grad}{grad}
\DeclareMathOperator{\supp}{supp}
\providecommand{\diam}{\operatorname{diam}}
\NewDocumentCommand{\Hdmeas}{O{s} O{\delta}}{\mathcal{H}^{#1}_{#2}}
\NewDocumentCommand{\Hmeas}{O{s}}{\mathcal{H}^{#1}}
\providecommand{\HD}{\operatorname{HD}}
- Ementa
-
- Revisão de teoria da medida: suporte e bacia de medidas, pontos de densidade, continuidade absoluta e mudança de variáveis. Teoremas de cobertura de Vitali e de Besicovitch, diferenciação de Radon.
- Medida de Hausdorff, dimensão de Hausdorff e Minkowski e exemplo de fractais, técnicas de cálculo de dimensão de Hausdorff, projeções, produtos e interseções, dimensão de Hausdorff (Teorema de Mastrand).
- Fórmulas da área e da coárea, funções Lipschitz e funções BV, Teorema de Rademacher; funções de Sobolev, desigualdades de Sobolev.
- Bibliografia
-
Principal:
- Evans, Lawrence C.; Gariepy, Ronald F. Measure theory and fine properties of functions. Revised edition. Textbooks in Mathematics. CRC Press, Boca Raton, FL, 2015.
- Falconer, Kenneth Fractal geometry. Mathematical foundations and applications. Second edition. John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, NJ, 2003.
Complementar:
- Mattila, Pertti, Geometry of sets and measures in Euclidean spaces. Fractals and rectifiability. Cambridge Studies in Advanced Mathematics, 44. Cambridge University Press, Cambridge, 1995.
- Giusti, Enrico Minimal surfaces and functions of bounded variation. Monographs in Mathematics, 80. Birkhäuser Verlag, Basel, 1984.
Caso linear
Fórmula de área
Seja L \coloneqq f \colon \RR^n \to \RR^m linear, n \leq m. Lembrando:
Vamos lembrar também do seguinte teorema:
Let \mu,\nu be Radon measures on \RR^n with \nu \ll \mu. Then
for all \mu-measurable sets A \subseteq \RR^n.
Podemos supor L injetiva. Se L não for injetiva, então \jacobian{L} = \lvert \det S \rvert = 0 e \dim L(\RR^n) \leq n - 1, logo \Hmeas[n](L(A)) = 0.
Seja \nu(A) = \Hmeas[n](L(A)). ( \nu = {L^{-1}}_*\Hmeas[n]|_{L(\RR^n)}
)
- \nu é Radon e tal que \nu \ll \Lmeas.
Logo pelo teorema de diferenciação, para todo os boréis B \subseteq \RR^n vale
Como as duas medidas são regulares, o resultado também vale para todos os conjuntos.
Fórmula de coárea
Seja L \coloneqq f \colon \RR^n \to \RR^m linear, n \ge m. Lembrando:
Para fazer sentido, precisamos mostrar que q\colon y \mapsto \Hmeas[n - m](A \cap f^{-1}\{ y \}) é \Lmeas[m]-mensurável.
-
\dim L(\RR^n) < m
Nesse caso, para \Lmeas[m]-q.t.p. y \in \RR^m temos A \cap L^{-1}\{ y \} = \varnothing, portanto q é nula q.t.p.. Além disso, escrevendo L = S \circ O^*, devemos ter \det S = 0.
-
Se P é uma projeção ortogonal, segue por Fubini que
\begin{align*} \int_{\RR^m} \Hmeas[n - m](A \cap P^{-1}\{ y \}) \;d y &= \int_{\RR^m} \Lmeas[n - m](A \cap P^{-1}\{ y \}) \;d \Lmeas[n](y) \\ &= \Lmeas[m](A) \end{align*} -
\dim L(\RR^n) = m
Seja L = S \circ O^*.
Afirmação.Podemos escrever O^* = P \circ Q onde P \colon \RR^n \to \RR^m é uma projeção ortogonal e Q \colon \RR^n \to \RR^n é ortogonal.
De fato, seja Q qualquer mapa ortogonal tal que
\begin{equation*} Q^* \colon (x_1,\dots,x_m,0,\dots,0) \mapsto O(x_1,\dots,x_m) \end{equation*}e seja
\begin{equation*} P^*(x_1,\dots,x_m) = (x_1,\dots,x_m,0,\dots,0) \end{equation*}então O = Q^* \circ P^* \implies O^* = P \circ Q.
- Note que (S^{-1}_*\Lmeas[m])(A) = \Lmeas[m](S(A)) = \jacobian S \Lmeas[m](A) = \jacobian L \Lmeas[m](A).
(por exemplo, pela fórmula de área). -
Como P é projeção ortogonal,
\begin{align*} \Lmeas(A) = \Lmeas(Q(A)) &= \int_{\RR^m} \Hmeas[n - m](Q(A) \cap P^{-1}\{ y \}) \;d y\\ &= \int_{\RR^m} \Hmeas[n - m](A \cap (P \circ Q)^{-1}\{ y \}) \;d y\\ &= \jacobian{L}^{-1} \int_{\RR^m} \Hmeas[n - m](A \cap (O^*)^{-1}\{ y \}) \;d S^{-1}_*\Lmeas[m](y)\\ &= \jacobian{L}^{-1} \int_{\RR^m} \Hmeas[n - m](A \cap (S \circ O^*)^{-1}\{ y \}) \;dy\\ &= \jacobian{L}^{-1} \int_{\RR^m} \Hmeas[n - m](A \cap L^{-1}\{ y \}) \;dy \end{align*}
- Note que (S^{-1}_*\Lmeas[m])(A) = \Lmeas[m](S(A)) = \jacobian S \Lmeas[m](A) = \jacobian L \Lmeas[m](A).
Funções Lipschitz
Extensão
Suponha que A \subseteq \RR^n e f \colon A \to \RR^m é Lipschitz. Então existe uma extensão \tilde f \colon \RR^n \to \RR^m com constante de Lipschitz \Lip(\tilde f) \leq \sqrt{m}\Lip (f).
De fato, pode-se provar que existe uma extensão com a mesma constante de Lipschitz.
Vamos começar com o caso f \colon A \to \RR. (A \neq \varnothing).
Nesse caso, a extensão é intuitiva: faz um cone cair
sobre a função no ponto.
Note que \tilde f extende f, pois se a \in A então para todo y \in A vale
Al Além disso, f é Lipschitz contínua, pois se x,y \in \RR^n temos
trocando x por y, obtemos \lvert \tilde f(x) - \tilde f(y) \rvert \leq \Lip \lvert x - y \rvert.
Agora, para o caso geral, sejam \tilde f_k extensões de f_k para 1 \leq k \leq m. Definindo \tilde f = (\tilde f_1,\dots, \tilde f_m), temos que
Diferenciabilidade
Dizemos que f \colon \RR^n \to \RR^m é diferenciável no ponto x \in \RR^n se existe um mapa linear L \colon \RR^n \to \RR^m tal que \lim_{y \to x}\frac{\lvert f(y) - f(x) - L(y - x) \rvert}{\lvert x - y \rvert} = 0, ou seja,
Quando existe, a derivada é única, e denotamos Df(x) = L.
Seja f \colon \RR^n \to \RR^m uma função localmente Lipschitz. Então f é diferenciável \Lmeas[n]-q.t.p..
O teorema acima vale para n = m = 1. (pffff. Grande coisa, Lebesgue).
A primeira coisa a notar é que podemos sem perda de generalidade assumir que f \colon \RR \to \RR é crescente e invertível: existe C = \Lip(f) + 1 tal que g \coloneqq f + Cx é bijetora.
Seja \mu = f^{-1}_*\Lmeas[1]. Note que \mu([a,b]) = \Lmeas[1]([f(a),f(b)])) = f(b) - f(a). Além disso, temos \mu \ll \Lmeas[1], e de fato, \mu \leq \Lip(f) \Lmeas[1].
Agora, poderíamos usar diferenciação de medidas: D_{\Lmeas[1]}\mu existe q.t.p.. Na verdade, tem um detalhe, pois isso nos daria a derivada simétrica. Porém, a mesma demonstração funciona para intervalos [x,x + r] ou [x - r,x] em vez de [x - r, x + r] em \RR. Essas versões adaptadas mostram que os limites laterais existem.
Podemos assumir m = 1 e que f é globalmente Lipschitz. Dado v \in \RR^n, defina
que são mensuráveis. Seja \diff f(x) = \ldiff f(x) = \udiff f(x) onde concordarem, e
os pontos onde \diff não existe. Note que A é mensurável.
Dados x,v seja \phi\colon \RR \to \RR, \phi(t) = f(x + tv) e L_{x,v} = \{ x + tv : t \in \RR \}. O teorema de diferenciação de Lebesgue nos diz que \Hmeas[1](A_v \cap L_{x,v}) = 0 para todo x. Assim, por Fubini, \Lmeas(A_v) = 0.
Até então, mostramos que dados enumeráveis \{ v_i \}, existe um conjunto de medida total A onde D_{v_i}f existe para todo i. Falta mostrar que existe um A de medida total no qual existe D_{v}f para todo v \in \RR^n.
Por brevidade, sejam \partial_i f = D_{e_i}f. Seja A_0 um conjunto de medida total onde existe
Fixado v \in \RR^n, vale
Escrevamos v = (v_1,\dots,v_n). Se \zeta \in C_c^{\infty}(\RR^n), então por mudança de variáveis
Além disso,
portanto (pelo TCD) podemos passar o limite t \to 0 para dentro e obter
Como isso vale para toda \zeta, provamos a afirmação.
Sejam \phi, \varphi localmente integráveis em \RR^n e \mu uma medida Radon. Suponha que para toda \zeta \in C_c^{\infty}(\RR^n), vale
Afirmamos que \phi \stackrel{\circ}{=}\varphi. De fato, seja A = \{ \phi > \varphi \}. Como \varphi e \phi são mensuráveis, A é mensurável. Seja A_N = A \cap B(N). Como \mu é Radon, existem fechados F_n \subseteq A_N e abertos U_n \supseteq A_N (os quais podemos supor limitados) tais que \mu(U_n \setminus F_n) \to 0.
Usando o fato de \varphi e \phi serem integráveis em limitados e o teorema da convergência dominada, existe um n_0 tal que
A partir de agora chamaremos U = U_{n_0} e F = F_{n_0}. Pela existência de bump functions
(ver prop. 2.25 do John M. Lee) existe uma \zeta \in C^{\infty}, 0 \leq \zeta \le 1 tal que \zeta|_F = 1 e \supp \zeta \subseteq U (como U é limitado, de fato \zeta \in C^{\infty}_c).
Sabemos que
Como \lvert \zeta \rvert \le 1, temos
logo
como \phi - \varphi > 0 e \zeta = 1 em F, pela desigualdade de Markov para todo \alpha > 0 \mu(\{ x \in F : (\phi - \varphi)(x) \ge \alpha \}) \le \frac{\varepsilon}{\alpha}. Mas \mu(A_N \setminus F) < \varepsilon, logo
O conjunto na esquerda não depende de \varepsilon, portanto para cada \alpha > 0 fixo, fazendo \varepsilon \to 0,
Agora basta notar que
portanto \mu(A_N) = 0, o que implica \mu(A) = 0. Repetindo o argumento para B = \{ \varphi - \phi > 0 \}, obtemos \varphi \stackrel{\circ}{=} \phi.
Para concluir, seja \{ v_i \}_k^{\infty} um conjunto enumerável denso de \partial B(1). Como mencionamos, existe um conjunto de medida total A_1 tal que D_{v_i}(x) existe para todos i \in \NN, x \in A_1. Seja A = A_0 \cap A_1.
Dado x \in A, afirmamos que f é diferenciável em x. De fato, sendo
temos a estimativa
Dado \varepsilon > 0, seja N suficientemente grande de forma que para todo v \in \partial B(1), existe k_v \leq N tal que \lvert v - v_{k_v} \rvert < \varepsilon / (2C).
Note que para todo i, temos \lim_{t \to 0}Q(v_i,t) = 0. Assim, existe \delta > 0 suficientemente pequeno de tal forma que t < \delta e i \le N implica |Q(v_i,t)| < \varepsilon / 2. Assim, para todo v \in \partial B(1) e t < \delta,
Ou seja, para todo y \in B(x,\delta), colocando v = \frac{y - x}{\lvert y - x \rvert} \in B(1) e t = \lvert y - x \rvert < \delta,
Diferenciabilidade em conjuntos de nível
-
Seja f \colon \RR^n \to \RR^m localmente Lipschitz, e
\begin{equation*} Z \coloneqq \{ x : f(x) = 0 \}. \end{equation*}Então Df(x) = 0 em \Lmeas-q.t.p. x \in Z.
-
Sejam f,g \colon \RR^n \to \RR^n localmente Lipschitz e
\begin{equation*} Y \coloneqq \{ X : g(f(x)) = x \}. \end{equation*}Então Dg(f(x))Df(x) = I em \Lmeas-q.t.p. x \in Y.
-
Assuma m = 1. Seja x \in Z um ponto de densidade de Z onde Df(x) existe; o conjunto de tais pontos tem medida total em Z.
Suponha a \coloneqq Df(x) \neq 0. Seja
\begin{equation*} S \coloneqq \left\{ v \in \partial B(1) : |v \cdot a| \geq \frac{\lvert a \rvert}{2} \right\}. \end{equation*}Por definição, existe \delta > 0 tal que t < \delta implica
\begin{align*} \frac{|f(x + tv) - \overbrace{f(x)}^{0} - t v \cdot a|}{t} &< \frac{\lvert a \rvert}{2}\\[10pt] \implies \left|\frac{f(x + tv)}{t} - v \cdot a\right| &< \frac{\lvert a \rvert}{2}\\ \implies \left|\frac{f(x + tv)}{t}\right| &> |v \cdot a| - \frac{\lvert a \rvert}{2}\\ \end{align*}ou seja, f(x + tv) \neq Z para todos t < \delta, v \in S , o que contradiz x ser um ponto de densidade.
-
Seja A = \{ x : Df(x) \text{ existe} \} e B = \{ x : Dg(x) \text{ existe} \}. Seja X = Y \cap A \cap f^{-1}(B).
Temos
\begin{equation*} Y - X \subseteq (\RR^n - A) \cup g(\RR^n - B) \end{equation*}pois se x \notin f^{-1}(B), então f(x) \notin B e portanto x = g(f(x)) \notin g(B). Funções Lipschitz preservam conjuntos de medida nula, portanto \Lmeas(Y - X) = 0. Além disso, se x \in X então
\begin{equation*} Dg(f(x))Df(x) = D(g \circ f)(x) \end{equation*}e como (g \circ f)(x) - x = 0 para todo x \in Y, então o passo 1 implica que
\begin{equation*} D(g \circ f) = I \quad\Lmeas \text{-q.t.p. em }Y. \end{equation*}
Fórmula de área
Seja A \subseteq \RR^n um \Lmeas-mensurável. Então
- f(A) é \Hmeas[n]-mensurável,
- o mapa y \mapsto \Hmeas[0](A \cap f ^{-1}\{ y \}) é \Hmeas[n]-mensurável em \RR^n e
-
\begin{equation*} \int_{\RR^m} \Hmeas[0](A \cap f^{-1}\{ y \}) \;d\Hmeas[n] \le (\Lip(f))^n\Lmeas(A). \end{equation*}
-
Sejam K_1 \subseteq K_2 \subseteq \cdots \subseteq A compactos com \Lmeas(K_i) \to \Lmeas(A). Como são compactos, f(K_i) são \Hmeas[n]-mensuráveis, portanto f\left(\bigcup_{i = 1}^{\infty}K_i\right) = \bigcup_{i = 1}^{\infty}f(K_i) também é. Também temos
\begin{align*} \Hmeas[n]\left(f(A) - f\left(\bigcup_{i = 1}^{\infty}K_i\right)\right) &\leq \Hmeas[n]\left(f\left(A - \bigcup_{i = 1}^{\infty}K_i\right)\right)\\ &\le (\Lip(f))^n \Lmeas\left(A - \bigcup_{i = 1}^{\infty}K_i\right) = 0. \end{align*} - diádicos, seq crescente
- TCM + Lipschitz